um livro de poesia não nasce pronto. todo livro de poesia é feito de pequenos passos, aproximações em direção ao estranhamento, encarando objetos, cenas, gestos, pessoas e suas paisagens internas. e então se passa pra próxima coisa que não entendemos sem demorar demais. a cada verso, um novo ruído. compreensível ou incompreensível. como se diferencia o que é barulho e o que é diálogo?
em seu novo livro, tudo que se aproxima faz um som, luiza leite às vezes produz um sussurro: algo quase zen, como o som que fazem os cabelos ondulando sobre as águas, o som que fazem as jiboias rastejando na trilha, o som que alguém amado faz quando mastiga um biscoito de polvilho.
às vezes, um uivo: uma música xamânica, um estrondo que percorre o corpo
depois de um raio.
outras vezes, também se ouve um som bem moderninho: teclas, chips, filosofia no youtube, rambo na tv.
também há fala: o blablablá dos bebês, as coisas aleatórias que os papagaios dizem, as conversas na rua que não te pertencem, as pedras que conversam sempre sem pressa.
para ler luiza leite, encoste seu ouvido no livro. escute com calma toda essa coisa indecifrável, escute as imagens que se abrem, escute esse gif que começa e recomeça. e, quando entender, tente reproduzir o som. imite cada cena quando não souber o que fazer. faça com a boca o barulho do risco da caixa de fósforos, mastigue gelo com força, ouça essas cartas se misturando enquanto alguém distribui um baralho.