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felipe andré silva

macondo edições
80 páginas

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existe um tipo de literatura política, poema político hoje, que coloca a política no lugar da raiva, da brutalidade. um poema político geralmente é lido como aquele que denuncia, é aquele raivoso, que fala com todas as letras o que ele quer escancarar.

e aí também dizem com frequencia que essa literatura política é menos. que o certo é fazer uma poesia que saia desses temas políticos e parta pro universal. literatura de verdade é universal, une as pessoas em direção a uma grande verdade que é para todas, não é de forma alguma específica, não pode estar a associada a nenhuma pauta, a nenhuma individualidade.

daí que vem alguem como felipe andré silva e faz um nem uma coisa nem outra. ele é muito político, mas ele esconde isso um pouco, com uns versos bem colocados, de um jeito que uma pessoa desavisada, que ler seu sorry.gif uma vez só vão achar que ele está sendo muito universal. que esse livro está rimando o amor e a saudade, como todos os grandes poetas já fizeram antes. não que a poesia seja menos por falar de amor, não que a poesia seja mais por ter uma utilidade de visibilizar um corpo que se localiza da periferia da literatura.

não. mas existe uma política aqui que distorce esses conceitos de político versus universal ou de pobreza ou riqueza literária, e é por isso que eu destaco isso. a forma com que felipe andré silva cria seus versos – ele fala de demônios sem chamar pelo nome, a ele não interessa que as entidades responsáveis tomem conta do país. falar de amor, de saudade, de solidão é também falar de preterimento, de abuso, de cortes fundos. existe afeto aqui, mas também existe golpe. e se a pessoa errada está pedindo desculpas e escrevendo poemas, é porque as coisas não estão funcionando.