daniel massa não tem nome de poeta. mas ele tenta ser do mesmo jeito, arrisca um verso e outro, encavala os sons, muda o tom e cria humor a partir dessas palavras parecidas mas não semelhantes, piraquê pira pora nossa senhora e tampa tempo tem pé tem pó cabendo transborda e inunda e afoga. ler daniel massa é engraçado, a gente ri, mas deveria gargalhar, só que ele não deixa.
porque ele faz questão de lembrar de um senhor de meia idade, estatura média, blusa social, recém divorciado, que vai morrer no hospital porque teve seu guarda chuva roubado. porque ele faz questão de lembrar que estamos sempre atrasados nessa cidade. porque ele se encara no espelho e fica se perguntando: o que há de errado com a felicidade?
e pergunta também pra você. conta histórias como quem conta histórias pra alguém próximo, porque daniel massa não tem nome de escritor, e não tem cara desses caras que colocam a literatura acima dos homens. a poesia existe é no bar, a poesia bebe cerveja, depois precisa pegar um ônibus pra voltar pra casa e fica presa num engarrafamento. lembra? tá chovendo.
moisés morreu de pneunomia no poema ali atrás, a previsão é de céu encoberto e agora temos mais um poema sobre poças e água e rio e réu e rua e da janela vemos jean jacques rousseau na chuva.
não tem nome de quê é uma reunião dos primeiros poemas do daniel, mas existe uma narrativa até sólida, uma cena invadindo outra, as repetições que vão criando um estilo construído com uma paciência pouco característica das pessoas de áries, que mal conseguem contar até três, quem dirá chegar num poema longo, escrever uma narrativa perto do final que é algo que me lembrou o futuro do daniel.
um futuro ainda sendo inventado, a ser publicado, a ser criptografado, com a mesma assinatura ou outra, mas de fato, em mais uma enchente. um continho de amor bonito toda a vida e isso basta. quando chegará o dia em que todos os poetas serão anônimos. por enquanto, nenhum poeta tem nome de nada mesmo.