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karaokê & jukebox
dimitri br

edições garupa

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dimitri pega o microfone e começa a cantar um verso de chacal. para e começa a declamar uma fala de marília garcia. dialogar com uma música dos mcs markynhos e dolores. enquanto escreve, é sua voz que está na página. se você já o ouviu cantar, você reconhece o sotaque. cada palavra ali foi digitada por ele e, justamente por isso há tanta gente junta. músico de muitas parcerias, a cada página surge uma nova referência, uma nova citação, um novo comentário sobre aquilo que alguém já disse antes.

se no ocupa, o livro anterior do dimitri, o dimitri já tinha trabalhado com a ideia de coletivo ligado às noções de público, de bem comum, agora nessa dupla KARAOKÊ E JUKEBOX a ideia de coletividade se torna uma escrita em colaboração, uma abertura dos processos de escrita e pesquisa. o artista esquece essa história de que um artista precisa “encontrar uma voz própria” mostrando como toda singularidade, toda subjetividade é composta de afetos que vem de pessoas diferentes – amigos, artistas, canções.

jukebox é uma reunião de músicas e textos do dimitri publicados em revistas, jornais, antologias e discos ao longo de dez anos. há poemas em diálogo com angélica freitas, victor heringer, eduardo heringer e citações a muitas amizades, como regina azevedo e lucas matos.

já em karaokê, dimitri investiga o que é voz por meio de referências diversas – millor fernandes, luiz tatit, roberto carlos, nietzsche, gal costa, marina abramovic, zeze di camargo, marisa monte… quando alguém interpreta a canção composta por outra pessoa, de quem é a voz? quando você ouve esse programa exatamente agora, minha voz está mesmo no passado? quando eu leio os poemas de dimitri em voz alta, a voz é minha ou dele?

dimitri escancara todas as suas referências e assim acaba questionando também as ideias correntes de originalidade. um poema composto apenas de frases coletadas por aí é um poema de dimitri? ou deveria ser assinado por todo esse coral? ou por ninguém? roubar é arte? curadoria é arte?

karaokê e jukebox são dois livros impressos que só acontecem ao vivo. dimitri vai tecendo provocações e praticando sua teoria sobre todas essas palavras do meio da perfomance. é pra pensar em som, presença, corpo, colagem. é pra lembrar que poesia também é uma forma de construir pensamento. é pra entender de vez que tudo pode ser música – você consiga ouvir ou não.