se te amarrarem na estrada abre com uma notícia distópica: após um scan nos dados de computadores e redes sociais de todas as pessoas, estúdios, gravadoras, editoras começam a enviar boletos cobrando todos que acessaram ou baixaram conteúdos ilegalmente – o lobby quer o valor integral, retroativo. para além disso, esses dados também servem a artistas, personalidades, políticos que querem indenizações por ofensas proferidas nos meios digitais. é essa a mensagem que heyk pimenta passa logo no seu primeiro texto, o aviso que deixa na porta de entrada pro leitor: ninguém vai sair impune.
quem topa entrar nesse livro já está com a corda posta, como se diz. o livro parte de experiências de trabalho, viagem, relacionamento, de gente comum, para tentar encontrar aquilo que existe de potência no espaço do chão, do público, do coletivo. em ruas oleosas, no corredor da morte onde já estamos. depois de demissões da biblioteca, depois que as geladeiras são desmontadas, depois que se fica pra trás.
a guerra está pra acontecer. não se muda as coisas sem correr algum risco. então é hora de ser incendiário. poupar as mães, organizar a luta para além da retórica, invadir as ruas, o brilho o calcário.
é um língua de diálogo, de conversa, escrito como se fala, que joga com a prosódia. uma tentativa de encontrar as palavras-chave que vão resolver esse enigma, que vão resolver esse tempo. fazer com que as cartas cheguem a seus destinários, promover o encontro entre pessoas que não se veem há muito tempo. com que boca vamos cortar a corda que nos amarram?
como se foge do caos que se instarou? heyk pimenta acredita na liberdade para que a liberdade acredite nele de volta. é uma poesia de fuga, uma série de possibilidades de esgotamento da vida mesquinha. é o desejo de fruir, de expandir ideias, de dançar com o jornaleiro.