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cine studio 33
estela rosa

macondo edições

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você se senta na poltrona e o filme começa. uma escritora está em sua sala de trabalho. ela reveza entre a escrita, pesquisas, músicas quando vê uma sombra passando na luz e seus gatos desesperados. é um filme de terror. não. é um road movie, um veículo subindo a serra. é uma história onde um envelope que parece ser assinado tanto pela mãe, quanto pela filha se torna um macguffin no roteiro. aquele típico drama familiar onde as caligrafias se confundirem simboliza duas personagens se espelham. é uma obra educativa, um manual de instruções – um guia detalhado de como secar cravos no pé de um menino, uma simpatia que envolve buracos, cebolas e uma fé seguida de olhos fechados.

só que até a última sequência, tudo pode mudar. até que o pai de estela rosa a corrige em relação à simpatia para secar cravos no pé, depois dos créditos existe um pouco mais de narrativa, o parágrafo final, a reviravolta na última cena, quando você achava que já não havia mais nada nesse filme pra assistir.

você se senta na poltrona e o filme começa. estela rosa começa a falar, o texto desembesta num ritmo próprio, de pouca, de quase, de nenhuma pontuação. há certo fluxo de consciência, como se as lembranças escapassem da poeta e por isso precisassem estar sendo registradas da forma mais rápida possível. um elemento seguido de outro, uma frase que é corrigida quando a autora se dá conta da confusão, uma listagem de ruas, de placas, de nomes de estabelecimentos, com a menor afetação possível. são apenas substantivos, não há adjetivação, não há subjetivação, certo?

errado. a gente sabe que isso é ficção. é mentira. é simulação. é cinema, lembra? ela avisa no título. você se senta na poltrona e o filme começa. dentro daquela tela, você sabe, está prestes a ver uma obra pautada numa forma muito específica de ver o mundo, mesmo que uma cartela te avise que tudo que está sendo exibido é baseado em fatos reais. toda memória aqui registrada é menos registro que invenção. cine studio 33 é um livro sobre artistas que não são atores, memórias que jamais foram filmadas, contadores de histórias e não roteiristas. um funcionário do metrô rio pode ser um traficante de ouro, escrever sobre figos pode ser escrever sobre baratas voadoras, falar de uma cidade que se chama miguel pode ser falar de um homem que se chama miguel.

é como se a única possibilidade de contar a história desse cinema fosse não falando sobre o cinema. importa pouco o cinema, importa mais as bordas, as pessoas, aquela gente, aquela cidade que propiciou o acontecimento cinema. interessa falar de pessoas de nomes comuns, porque nenhum nome é único. interessa falar de outros modos de capturar imagens com luz, os dedos que saem da terra, as sombras que os galhos fazem em direção ao céu, pedindo chuva para o terceiro melhor do clima do mundo.

você senta na poltrona de cine studio 33 e assiste as cenas paralelas, os coadjuvantes, a sexta feira comum, o causo que não aparece na história oficial, o personagem esquecido do verbete na wikipedia, aquele diálogo mais rotineiro que não apareceria no corte final.