38 CARTAS NA MESA DE
MARCELA DANTÉS
vento vazio
companhia das letras
224 páginas
Lenio Carneiro Jr.: Esse é o Cartas na mesa, um espaço do Leituras para ouvir quem escreve a literatura brasileira contemporânea. Uma conversa em função do tempo sobre escrita, processos de criação e aquilo que ronda o que chamamos de literário.
A Marcela Dantés publicou seus primeiros livros pela Editora Patuá: a coletânea de contos Sobre pessoas normais e o romance Nem sinal de asas. Depois, publicou outros dois romances: João Maria Matilde, pela editora Autêntica, e o seu livro mais recente, Vento Vazio, saindo agora pela Companhia das Letras.
Marcela, bem-vinda! Obrigado por ter aceitado o convite e topado a nossa conversa. Fique muito à vontade, o espaço é todo seu. Primeiramente, eu quero te passar a palavra pra que você se apresentasse, da melhor forma que preferir.
Marcela Dantés: Oi, Lenio. Oi, todo mundo que tá ouvindo. Eu que agradeço o convite. Para mim é uma alegria tá aqui no Cartas na Mesa. Tô super animada. Eu sou a Marcela Dantés, sou escritora, moro em Belo Horizonte, sou mãe do Antônio, que também é uma das minhas atividades… a minha atividade mais importante, e uma das atividades que ocupam grande parte do meu dia. E é isso. O Vento Vazio acabou de chegar da gráfica, tá quentinho, com cheiro de livro novo. E eu tô super ansioso para ele chegar para todos os leitores.
Marcela Dantés: Ótimo. Vai ser fácil. Tô aqui na minha mesa agora, mas preciso confessar que nem sempre eu escrevo aqui. Eu gosto muito de escrever deitada na cama. Mas a minha mesa também é um lugar muito importante, principalmente quando eu tô revisando o livro. Eu tenho uma mesa com dois computadores: o meu computador de escrita e o meu computador do meu trabalho CLT. Duas canecas com muitas canetas e muitos marca-textos.
Do meu lado, tem uma parede de cortiça que eu vou colocando algumas coisas importantes para mim. Tem uma foto dos meus pais na praia e tem uma foto do meu marido com meu filho. Vários papéis, várias anotações, lembretes — principalmente referências do projeto que eu tô trabalhando. No momento esse quadro tá cheio de imagens relacionadas ao Vento Vazio ainda. Tem uma cartinha do meu editor que chegou ontem que já foi para lá. O Vento Vazio é um livro que se passa na Serra do Espinhaço e é muito marcado por sempre-vivas e então eu trouxe da última vez que eu fui lá, da última visita de pesquisa para o livro, três buquês de sempre-vivas.
Tem umas bandeirolas escrito “sorte” que é uma coisa que eu carrego comigo onde eu vou. Eu já mudei de casa algumas vezes e eu sempre arrumo espaço. É muito importante essa bandeira, que é um lembrete. Foi um presente de uma amiga muito especial e quando ela me deu ela me disse que eu já tinha o talento, o trabalho duro e a dedicação, então que agora a sorte seria para fechar essa tríade. Então eu carrego essa sorte sempre para me lembrar de que as outras duas partes são responsabilidade minhas.
Muitos cadernos também. Um calendário, que para mim é muito importante. Eu tô sempre consultando esse calendário, observando ali as datas, meus próximos compromissos. Eu ainda sou muito analógica, então eu anoto as coisas nesse calendário de mesa. E muitos livros. Livros que eu recebi, que eu quero ler, que estão aqui na minha fila. Livros que eu tô consultando para algum projeto, algumas coisas que eu quero digitalizar, também tem muitos livros na minha mesa.
Tem ainda muito importante: um rinoceronte de pelúcia que me acompanha também há muito tempo e agora tem uma uma mini torre eólica que era/é de um brinquedo do meu filho, mas o meu livro também se passa numa usina eólica, e aí eu coloquei aqui também para me acompanhar nos próximos tempos. Esse objeto acaba mudando de acordo com o tempo do que que eu tô fazendo, o que que eu tô trabalhando, mas no momento é essa mini torre eólica.
LJ: Legal, já tem então um ambiente bem concretizado, bem amparado assim mesmo. E considerando a bandeirinha escrito sorte: sobre jogos de baralho, muitos deles envolvem sorte, né? A maioria deles. Queria saber como que é isso… se você gosta de jogar. Assim, a parte da minha família mineira, de Araguari, adora jogar baralho. Não sei se é uma coisa que a gente pode ampliar assim para todo o estado, mas queria saber sua relação com isso.
MD: Completamente. Minha família leva jogo de baralho muito a sério. A gente às vezes se encontra para jogar. A gente joga um jogo que às vezes eu acho que é um jogo da minha família assim. A gente chama ele de Pontinho. Ele tem alguma coisa parecida com o mexe mexe que as pessoas jogam, mas não é um mexe mexe. Ninguém que não é da minha família conhece. A gente vai colocando e é sempre uma novidade, mas a gente leva muito a sério. Mas eu adoro jogar buraco, adoro jogar Canastra. Meu filho de quatro anos ganhou um jogo do mico e tá adorando também, todos os dias ele pede para jogar o mico, então é uma coisa que faz parte da minha rotina total. Eu gosto demais.
patti smith
só garotos
patti smith
grande sertão: veredas
guimarães rosa
Seus pais são leitores?
Meu pai é um grande leitor. Eu me lembro de vê-lo sempre com um livro em casa e foi assim que eu descobri vários autores. E minha mãe eu brinco que ela é uma grande leitora de Marcela. Ela sempre é a minha primeira leitora e ela sempre diz que o meu livro é a melhor coisa que ela já leu. Mas é porque ela realmente só gosta de ler eles.
Você escreve, ou tenta, escrever todos os dias?
Sim. Principalmente quando eu estou trabalhando num projeto eu me coloco, nem que seja meia hora, 40 minutos, para me dedicar. Não me coloco quantidade, volume, “você tem que escrever tantas palavras” — já fui a doida das palavras assim, “eu tenho que escrever tantas palavras por dia”, hoje não mais. Mas quando eu estou mergulhada em um projeto, eu escrevo todos os dias.
Escrever é um ofício solitário?
Não, não é. Eu acho que escrever é um ofício que você precisa de muita gente para que um livro nasça. É claro que o momento inicial de sentar ali e fazer a ideia virar um texto é sim um pouco solitário, mas eu acho que essa é uma das etapas só. Eu acho que as trocas que acontecem depois, tanto no processo de edição, quanto troca com os nossos pares e leitores de confiança enriquece muito texto, isso para mim é essencial. Se eu não tivesse essa etapas, eu não conseguiria escrever. Então eu acho que ainda que exista uma etapa sim solitária, escrever também demanda muita troca e isso talvez seja o mais bonito da literatura.
Existe originalidade?
Claro que sim. Existe. Nem sempre é fácil de encontrar, mas também quando a gente encontra é muito bonito de se ver e de se presenciar algo muito original acontecendo.
Você escreve cenas de sexo?
Sim. Acho que todos os meus livros tem pelo menos uma cena de sexo. O último, o Vento Vazio, tem uma narradora (o livro narrado em quatro vozes) que é absolutamente sexualizada, então ela fala muito disso. Foi um exercício até bastante complexo, porque é uma menina de 14 anos e ela traz várias cenas — não necessariamente cenas que aconteceram, mas desejos dela e ela coloca isso na narração dela — e acho que ao mesmo tempo que foi bastante difícil é um dos pontos fortes do livro.
Você sente ou já sentiu vergonha de escrever?
Não, eu já senti vergonha de tornar público o que eu escrevi, mas para mim escrever sempre foi muito mais uma necessidade e algo muito natural. Então nunca, nunca encontrei espaço para vergonha.
Qual o papel da música (ou do silêncio) no seu processo de criação?
Eu sou uma pessoa do silêncio. Eu não consigo, admiro muito quem coloca uma música ali para escrever e se concentra com isso, mas eu preciso do silêncio. Depois que eu me tornei mãe, eu comecei a dar conta de escrever em qualquer situação ou até no caos absoluto. Mas a música nunca fez parte, não. E curioso porque depois que eu escrevo, eu sempre vou montando uma playlist que eu acho que tem a ver com o livro, com a obra, mas não é algo do momento de criação. Eu nunca escrevo ouvindo música.
O que não cabe à literatura?
Censura.
Nas artes, como separar hobby e trabalho?
Hmm. Eu acho que o trabalho é algo que você procura sempre fazer o seu melhor e o hobby, não necessariamente. O hobby é algo que te dá prazer, é algo que te alimenta de alguma forma. Então acho que produzir arte pode estar aí como hobby, se ela tiver nesse lugar de exclusivamente te dar alguma sensação de bem-estar; algum prazer. E à medida que você procura sempre se tornar melhor naquilo e alcançar algum tipo de excelência (e para isso você vai se especializar, buscar, estudar, exigir mais de você), eu acho que isso já tá caminhando um pouco para o trabalho. E é curioso, porque eu acho que a gente tá vivendo um momento da sociedade que a gente está inclusive perdendo o espaço para o hobby, né? Porque existe uma cultura de ser sempre o melhor no que se faz, sempre se capacitar mais e mais naquilo e às vezes é isso assim… às vezes eu, por exemplo, sou uma tragédia para desenhar, uma tragédia, e não é algo que faça, eu vou sentar e me dá vontade de desenhar, mas desenhando como meu filho ali, às vezes eu já eu já tive que me policiar para não pensar assim: “nossa, eu preciso fazer uma aula de desenho para poder desenhar direito”. E não. Às vezes a gente não precisa ser bom em tudo. Eu acho que a divisão tá nesse lugar.
O que você faz quando sente dor de cabeça?
Olha, eu sinto muita dor de cabeça. Eu sou uma pessoa que sofre dessa enxaqueca incapacitante mesmo, de ter que ir para o hospital tomar remédio. Então a primeira coisa que eu faço quando eu sinto dor de cabeça é sentir pânico de não saber se essa dor de cabeça vai progredir para essa enxaqueca que me demanda ir para o hospital e que às vezes me paralisa por três, quatro dias. Mas aí eu sempre tenho ali os medicamentos, Toragesic me ajuda demais. Tento também uma toalha molhada na cabeça, às vezes costuma funcionar, na testa, mais geladinha. Mas eu já criei um caminho de evitar os meus gatilhos. Meu gatilho principal é sol na cabeça, então eu sou uma pessoa que tem sempre que andar de chapéu ou de boné quando eu tiver tomando sol.
Se surgisse o convite para você escrever a biografia de algum ídolo, com direito a todos os bastidores da vida dele ou dela, quem seria?
Patti Smith. Eu acho que é uma pessoa maravilhosa. Conhecer a obra dela, principalmente a obra como escritora, né? Porque eu acho que a gente tá falando de uma artista multifacetada e tem um trabalho maravilhoso com a música também, mas conhecer a Patti Smith escritora foi um grande divisor de águas assim, eu sou muito fã do trabalho dela e seria genial se eu pudesse conversar e saber tudo das coisas que ela já nos mostrou, né? Ela tem o Só garotos, que ela conta muito da juventude dela e desse primeiro contato com a arte. Tudo que eu já vi ali me deixa completamente obcecado, então eu não pensaria em alguém diferente para escolher.
Qual pergunta você gostaria de fazer à sua escritora ou escritor favorito?
Nesse caso eu gostaria de fazer uma pergunta para o autor do meu livro favorito que é o Guimarães Rosa, meu livro favorito é o Grande Sertão: Veredas. Eu perguntaria se enquanto ele estava escrevendo ele tinha dimensão de que ele tava escrevendo alguma coisa que ia mudar a literatura brasileira.
precisamos falar sobre o kevin
lionel shriver
[Qual sonho você já teve, e hoje não tem mais?]
Você já deixou de amar alguém?
Já, já sim, já. Eu acredito no amor incondicional só pelo meu filho. Eu acho que quando as pessoas nos decepcionam demais existe um caminho aí para acabar o amor sim.
Você já foi contestada por algo que escreveu?
Ainda não ou não que eu saiba.
Como é sua relação com as editoras que te publicaram?
É uma relação muito boa. Felizmente sempre tive ótimas experiências. Eu comecei na Patuá, que é uma editora independente. O Eduardo Lacerda, que é o editor e durante muito tempo foi o único profissional ali, agora ele já conseguiu trazer mais algumas pessoas, mas ele tava lidando conta de tudo. Eu sou muito grata, porque ele foi a pessoa que primeiro quis me publicar. Publicou o meu livro de contos e depois publicou meu romance Nem sinal de asas. A gente tem uma relação muito boa, ele torce muito por mim, me incentiva em todos os movimentos. A gente está sempre em contato e eu admiro muito a Patuá, então eu também sempre faço o que eu posso para que as pessoas conheçam a Patuá, conheçam o catálogo da Patuá que eu acho muito valioso.
A Autêntica também tem uma relação muito bacana. O meu livro foi o primeiro livro do selo autêntica contemporânea, que era um projeto novo da editora lá em 2022. Sempre fui muito bem tratada lá dentro. A gente teve uma relação de troca muito importante, eu acho que o meu livro cresceu demais com as orientações, com as considerações das editoras da contemporânea.
E agora na Companhia das Letras o meu editor é o Antônio Xerxenesky, que eu acho um cara fantástico. O Vento Vazio não seria o livro que ele é hoje sem o Antônio, sem o olhar do Antônio, sem a genialidade do Antônio. Ele pegou esse livro e me pegou pela mão e a gente fez um trabalho ali muito dedicado e eu tô me sentindo muito bem cuidada assim na Companhia das Letras. Não só o editor, mas toda a equipe: pessoal de marketing, pessoal de eventos. É um lugar realmente muito especial para se estar. Eu sonhei com isso durante muito tempo e agora eles estão entregando tudo.
Qual livro você gostaria de ter escrito?
Precisamos falar sobre o Kevin, da Lionel Shriver. É um livro complexo, mas é um livro que eu acho que tem ali uma força e marcou a literatura de um jeito muito interessante — e me marcou também absolutamente.
meu pé de laranja lima
josé mauro de vasconcelos
O que faz um livro ser bom?
As personagens. Boas personagens. Eu acho que você ter personagens ali que despertam sensações no leitor, personagens complexas, contraditórias, personagens que não são essencialmente boas, essencialmente más, personagens que em algum momento a gente tem raiva e em outro a gente ama, personagens que são muito mais próximos dos humanos do que a gente idealiza. Eu acho que isso faz um livro bom mais do que qualquer coisa.
Qual o primeiro livro que você lembra de ter lido?
Meu Pé de Laranja Lima, do José Mauro de Vasconcelos. Lido e chorado loucamente. E ficado muito espantada com a força da literatura.
Quando você começou a levar a escrita a sério?
Quando eu tinha uns 10 anos de idade e fazia o meu para casa de redação e o das minhas primas mais velhas. Eu acho que desde aí eu entendi o lugar do texto na minha vida.
Para quem você mostra um livro pronto primeiro?
Para minha mãe, minha primeira leitora sempre.
Qual um sentimento sobre o mundo que te acompanha desde criança?
Uma incompreensão com as injustiças e com as desigualdades. É uma coisa que eu lembro de me incomodar desde muito nova e ainda hoje me deixa muito desconfortável assim. Então, por exemplo, de passar por uma pessoa em situação de rua e não entender porque que tem pessoas que têm casa, que tem uma cama quente e outras, não. Isso é algo que até hoje não consigo lidar bem.
O que você vê da sua janela?
Eu moro numa casa então o da minha janela eu vejo meu quintal. Eu vejo a cama elástica que o meu filho gosta de brincar, eu vejo as árvores, eu vejo o gramado. Muitas vezes eu vejo o meu cachorro latindo para o portão. Um dos meus cachorros, ele gosta de ficar muito no portão, que é o Vicente. E eu vejo o céu, que é uma coisa que para mim é muito importante. Eu consigo daqui da minha janela, sentada na minha mesa, ver o céu, ver como é que tá o tempo, isso é para mim é super valioso.
Quem é dono de uma história?
O leitor.
Escrever uma frase impecável ou um bom capítulo?
Um bom capítulo. Eu acho que ainda que eu seja uma autora que cuida muito da frase ali, do lapidar de cada escolha de palavra, eu acho que é uma frase só não dá conta da história. Então acho que a gente ter um capítulo que se sustente vai ser mais importante.
Tudo é poesia?
Tudo é poesia, tudo é poesia se a gente olhar com o olhar aberto para isso.
Tudo é ficção?
Não, nem tudo é ficção. Eu acho que a gente tem uma tendência de (pelo menos assim, fala enquanto artista) querer se dar esse direito de “ah, tudo pode ser ficção, tudo cabe no lugar da ficção”, mas não. A gente tem que ter um pé na realidade e lembrar que muita coisa está acontecendo de fato e não fechar os olhos para isso.
Você costuma xingar ou dizer palavrões?
O dia inteiro. E eu tenho que me policiar porque eu tenho uma criança em casa, mas eu sou uma pessoa relativamente estressada. Não sei se é a melhor palavra, mas meus amigos brincam que eu tenho aquela camisa “eu vou, mas vou reclamar o tempo inteiro”. Então eu tô sempre reclamando e xingando.
O que é a literatura brasileira contemporânea?
A literatura brasileira contemporâneo é um movimento bonito, muito variado… é uma mulher, eu diria. A literatura brasileira contemporânea é uma mulher.
Qual seu pecado predileto?
A gula.
A vida é curta?
A vida passa muito rápido, mas cada dia longo também tem uma coisa de precioso assim, mas passa rápido.
Quando você sabe que terminou de escrever um livro?
Eu não sei até hoje. Eu inclusive considero que os meus livros não estão terminados, mas quando o editor cobra o prazo a gente aceita.
Caminhar a pé, andar de trem ou voar de avião?
Como um bom mineiro eu vou ficar com o trem, uai.
Acordar mais cedo para escrever ou escrever à noite e postergar o sono?
Escrever à noite. Eu acho que acordar mais cedo é o melhor dos mundos. Escrever de cabeça vazia, descansada. Mas eu não consigo, não funciona para mim. Eu sou uma pessoa que não gosto de acordar cedo. Quando eu acordo cedo eu demoro um tempo para pegar no tranco e à noite eu funciono melhor, então é muito comum eu entrar na madrugada escrevendo e ali aproveitar essa quietude da madrugada e do fim de noite para escrever.
Por que você escreve?
Porque eu acho que eu tenho alguma coisa a dizer. E isso me faz bem: me faz bem compartilhar com os outros e mostrar para o mundo o que eu penso.
O quão política é a literatura?
Absolutamente política, principalmente num país como o Brasil em que a gente tem que lutar todos os dias por espaço, por mostrar a importância da cultura, então cada escolha de personagem, cada palavra, cada livro que se publica é um gesto político.
Qual conselho você daria para quem está distante da literatura?
Encontra o livro que vai mudar sua vida. Procura. E aí você vai se aproximar para sempre.
Qual sua personagem favorita?
Macabéa, da Clarice. Eu acho que ela tem uma força e um encantamento ali que são muito bonitos apesar de tudo do que acontece na história, né? E apesar do final que não é exatamente um final feliz, mas eu acho que Macabéa é uma personagem muito rica, muito bem construída, e aquilo que a gente falou: uma personagem complexa.
você me espera para morrer?
maria fernanda elias maglio
LJ: Bom, e esse aqui é o nosso final.
MD: Ah, que rápido.
LJ: Foram 38!
MD: Eu queria responder todas, é tão legal.
LJ: Pois é, sempre passa mais rápido do que parece. E, bom, você gostou? Achou que o tempo é uma questão que influencia muito ou não?
MD: Sim, porque às vezes a gente quer desenvolver um raciocínio mas aí você fala poxa, acho que já tá dito ali. Você tem que escolher o que você vai responder com uma palavra só, o que você vai contar um pouco mais. Mas as perguntas são muito boas, então dá vontade de falar sobre cada uma, se debruçar sobre cada uma. Tenho certeza que eu vou sair daqui pensando várias coisas. Talvez eu te ligue para complementar.
LJ: Perfeito, eu vou querer saber mesmo. Obrigado por responder as perguntas, pela honestidade, por tudo. E para a gente encaminhar para o final, queria que você recomendasse um livro que leu recentemente e que recomenda pro pessoal.
MD: Eu vou recomendar Você me espera para morrer?, da Maria Fernanda Elias Maglio. É um livro que saiu pela editora Patuá e é maravilhoso. Eu fiquei completamente apaixonada pelo livro. Contei para ela que comecei a ler no avião e chorei enquanto eu lia e a aeromoça veio perguntar se eu tava bem, do tanto que o livro mexeu comigo. E eu quero que todo mundo tenha a possibilidade de vivenciar isso.