todo texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura. quem escreve copia. quem escreve reproduz. quem escreve imita. quem escreve está sempre repetindo procedimentos e temas e noções e questões e ideias e diálogos inteiros e passagens ultraespecíficas de um outro alguém que veio antes.
é impossível que não se imitem gestos, há sempre um gesto anterior, mais velho que qualquer artista.
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escrever-através é um manifesto reflexivo em torno da criação no século xxi. uma colagem artística de dezenas de autores, autoras, trechos, personagens, frases reproduzidas assim como foram encontradas em livros, histórias, poemas. é uma defesa a favor do copiar e colar, da não criatividade, do exercício de trabalhar com o que já existe para criar não exatamente algo novo ou original mas algo que revele sentidos sobre esse tempo onde todos dançam as mesmas coreografias, respondem as mesmas trends, desafinam as mesmas opiniões.
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as noções de criação, esse fazer a partir do nada, se dissolvem nesta paisagem cultural onde djs, programadores, na verdade não são origens de nada. apenas selecionam objetos culturais e os inserem em outras perspectivas. é sobre mudar os contextos. as coisas ao redor listadas viram descrição de cenário, palavras coletadas no caminho pra casa viram pequenos poemas, um trecho de haroldo de campos vira outra galáxia quando datilografada por um máquina de escrever com defeito.
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são cento e poucas páginas de ideias que se repetem, ditas por pessoas diferentes, como kenneth goldsmith, ana martins marques, angélica freitas, leonardo villa-forte, marilia garcia. nem roland barthes, nem michel foucault, ninguém é exatamente inovador, mas todo mundo cria seus próprios pontos de partida. este é um livro sobre enquadramentos, seleções. o autor está tão morto quanto a arte que ele pretende.