A poeta inveja a água que inicia e acaba no contorno da piscina. Inveja porque não consegue delinear a si mesma. A poeta é um corpo deformado em transformação. É o chiclete preso no maxilar do mundo, mascado por uma mandíbula teimosa, incansável.
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Em Alma Corsária, paladar, olfato, visão, audição e tato trabalham em harmonia em uma tentativa de materializar a experiência vivida. Para isso, uma enxurrada de palavras, um sismo de poemas. Visitar a poesia de Claudia Roquette-Pinto é se apaixonar pelas palavras, sabendo que elas são casos perdidos.
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No livro, a natureza é o fio condutor, do qual a poeta extrai suas imagens. Às vezes basta reconhecer que a beleza de uma flor não pode ser recriada pelas palavras. Às vezes é preciso evocar pombas, pedras, chuva para chegar mais perto do amor.
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Claudia Roquette-Pinto faz poesia sobre poesia e, com sua intensa metalinguagem, também explora o corpo de quem escreve poesia. Um corpo que está no mundo, ele escorrega pelo tempo, passa por situações privadas, enfrenta traumas coletivos. Se o poeta é uma deformidade, é relevante localizar seu corpo para compreender de onde vieram os amassos.
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A autoconsciência presente em Alma corsária, não apenas manifesta essa mulher, de uma cidade quente, poeta, amante, mãe. Mas também detalha as sensações subjetivas desse corpo. O excesso sensorial gera uma imersão no leitor: agora você é outro, você é cada poema, você não passou por isso, mas também passou.